terça-feira, 24 de janeiro de 2012

VEJA O negocião de Naji Nahas com a Telecom Italia

fonte: arquivos de arquivos, etc


Dinheiro na mala é vendaval
Naji Nahas diz que ganhou uma mala recheada
com 3,25 milhões de reais da Telecom Italia
como pagamento de serviços de "consultoria" 
Antonio Milena
Naji Nahas: empresário, investidor e, como ele próprio se intitula, lenda viva


Dinheiro vivo virou o símbolo do PT. É dinheiro vivo na cueca, dinheiro vivo no jatinho, dinheiro vivo sendo sacado no Banco Rural. O que há de mais podre na política brasileira passou a circular desse jeito – em espécie. Os políticos corruptos movimentam grandes quantias em dinheiro. Mas de onde vem tanto dinheiro vivo? As possibilidades são muitas e tenebrosas. Em 2006, com uma campanha presidencial nas ruas, o Brasil terá uma chance rara de obrigar os políticos de todos os níveis a ser transparentes quando o assunto é dinheiro. Em qualquer parte, a moeda sonante é o meio de pagamento preferido por pessoas que pretendem esconder alguma coisa de alguém – em geral, do Fisco ou da polícia. Por isso, sempre que se tem notícia de que alguém transacionou grandes quantias em dinheiro as suspeitas são inevitáveis. A reportagem de VEJA teve acesso a documentos, obtidos pelo colunista da revista Diogo Mainardi, que mostram que a empresa Telecom Italia fez pelo menos um saque de 3,25 milhões de reais em dinheiro vivo em nome do investidor Naji Nahas, personagem central da crise que abalou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro em 1989. Muitas dúvidas cercam o destino dessa quantia.
UM CAMINHÃO DE DINHEIRO
Documento assinado pelo presidente da Telecom Italia na América Latina, Giorgio Della Seta, autoriza o banco Bradesco a sacar de uma das contas da empresa 3,25 milhões de reais – a ser entregues, em carro-forte, a Naji Nahas

OS FATOS – Em 2 de maio de 2003, Giorgio Della Seta, presidente da Telecom Italia na América Latina, encaminhou um documento a uma agência do Bradesco. Nele, autorizou o saque de 3,25 milhões de reais da conta-corrente 6160-3, pertencente à Telecom Italia. Em seguida, pediu que o numerário fosse entregue a Naji Nahas. Para isso foi usado um carro-forte. A operação foi feita no dia 7 de maio, às 9h30 da manhã.
Procurado na última quarta-feira, Giorgio Della Seta surpreendeu-se a princípio com o relato, mas, depois de mandar investigar os pagamentos feitos por sua empresa, admitiu a estranha transação. "Nahas quis receber em cédulas. O que fez com o dinheiro não é da nossa conta. Ele nos ajudou a concluir um acordo que fizemos com o Banco Opportunity, do empresário Daniel Dantas", disse Della Seta. Nahas confirmou essa versão e disse ter recebido em dinheiro porque vivia sob ameaça de bloqueio de bens e prefere não ter conta em banco (veja entrevista). Caso encerrado? Dificilmente.
PAGAMENTO ANTECIPADOO contrato firmado entre a empresa de telefonia e Nahas previa que o pagamento pela "consultoria" (4,12 milhões de reais, brutos) seria feito em oito parcelas. Nahas diz que, dias depois de sua assinatura, recebeu a bolada de 3,25 milhões, em espécie, a título de antecipação

AS SUSPEITAS – Há uma série de pontos obscuros nessa história:
• Naji Nahas foi contratado pela Telecom Italia em 30 de abril de 2003. O salário bruto por seu trabalho como consultor seria de 4,12 milhões de reais, divididos em oito parcelas mensais de 515.000 reais. Em 2 de maio, apenas dois dias depois da assinatura do contrato, a Telecom Italia simplesmente desconsiderou o acordo e presenteou Naji Nahas com o pagamento antecipado de 3,25 milhões de reais.
• Descontados os impostos sobre os 4,12 milhões de reais, Naji Nahas teria direito a receber 2,987 milhões de reais. A Telecom Italia deu-lhe 3,25 milhões de reais. Ou seja, 263.000 reais a mais do que o combinado. Em 20 de maio de 2003, o presidente da empresa assinou um aditamento ao contrato original, aumentando espontaneamente o salário de Nahas para 5,1 milhões de reais. Dois dias depois, um outro saque de 406.000 reais foi feito também em dinheiro vivo. Pelo contrato, Naji Nahas deveria ter recebido, por meio de depósito bancário, quinze dias após a emissão do recibo. Ele recebeu em dinheiro vivo, quinze dias antes da emissão do recibo.
• Os 3,25 milhões de reais, acondicionados em pacotes de 150.000 reais, foram entregues pontualmente em 7 de maio de 2003, por um carro-forte da transportadora de valores Preserve. O beneficiário do pagamento, de acordo com o documento assinado por Della Seta, era Naji Nahas. O local escolhido para a entrega do dinheiro foi a sede da Telecom Italia, no Edifício Parque Paulista, na Alameda Santos, 1940, conjunto 72. Nahas disse a VEJA ter recebido o dinheiro em seu escritório.
• Dois executivos da Telecom Italia afirmam que a mala de dinheiro vivo foi entregue a um representante da companhia chamado Ludgero Pattaro, que é uma das pessoas que apareceram em relatórios feitos pela agência de investigações americana Kroll como sendo responsável por pagamento de propina a dirigentes do PT em nome de Della Seta. A apuração de VEJA descobriu que, no mesmo dia em que o dinheiro chegou à sede da Telecom Italia, Pattaro foi ao hotel Renaissance, na Alameda Santos, 2233, carregando uma mala e escoltado por agentes de segurança. Ele alugou uma sala de reuniões no hotel e entregou a mala a uma pessoa que não era Nahas. Exatamente às 16h11, foi embora, depois de pagar 217 reais pelo aluguel da sala.
Norma Albano/Folha Imagem
Roosevelt Pinheiro/ABR 
Amigo de Lula, Roberto Teixeira recebeu gordos pagamentos por "consultorias" à Brasil Telecom, então controlada por Dantas (à dir.)

Como é sabido, a Kroll trabalha por encomenda de empresários que querem espionar seus concorrentes. Seus levantamentos são feitos no limite da legalidade – o que levou a Polícia Federal a invadir a sede da empresa em 2004. Ou seja, não se pode tomar a produção de fatos da Kroll pelo seu valor de face. Mas é fato também que a empresa não estaria em franca atividade no mundo cobrando caro por seus serviços se só produzisse material sem nenhum fundamento. Della Seta e Nahas dizem que as suspeitas são absurdas, fantasiosas e sórdidas. O presidente da Telecom Italia afirma não saber o que Pattaro foi fazer no hotel, nem o que carregava. De fato, não há prova cabal de que Pattaro carregava dinheiro, ou de que os dois fatos (envolvendo Pattaro e Nahas) tenham ligação entre si. Para efeito legal as fitas e os documentos da Kroll e as reportagens jornalísticas só podem ser tomados como pistas. Raramente como provas. Portanto, com todas as ressalvas, o que se pode afirmar é que existem indícios suficientes na transação financeira com dinheiro vivo protagonizada pelo investidor Naji Nahas para motivar uma investigação do poder público. As autoridades poderiam aproveitar e apurar outros contratos de consultoria. É o caso do acordo revelado por VEJA em janeiro, entre a Brasil Telecom e o advogado Roberto Teixeira, amigo do presidente Lula. Teixeira recebeu da empresa 1 milhão de reais em serviços de consultoria. Ainda não se sabe por qual serviço prestado.
"Nada como ser uma lenda"
O empresário Naji Nahas deu a seguinte entrevista a VEJA sobre sua consultoria à Telecom Italia:
O SENHOR RECEBEU O DINHEIRO DA TELECOM ITALIA? ONDE?Sim. No meu antigo escritório, em São Paulo.
POR QUE O PAGAMENTO FOI FEITO EM ESPÉCIE?Simples: depois de tudo o que fizeram comigo, com a liquidação da Internacional de Seguros, fiquei com meus bens bloqueados. Vivia sob ameaça de bloqueio. Como pessoa física, não tenho mais conta em banco. Por isso, recebi em dinheiro. Declarei e paguei o imposto de renda.
SEM CONTA, COMO O SENHOR FAZ PARA VIVER, FAZER COMPRAS, VIAJAR?Com cartão de crédito. Gostaria de deixar claro que meu negócio são grandes empresas. Nunca tive negócio com político nem com o setor público. Nunca dei dinheiro ao PT ou a outro partido. Nunca me foi pedido dinheiro para o PT. O dinheiro que recebi da Telecom Italia não foi para o PT. Foi para o Naji, e foi merecido. Essa história de que Lula depende do Naji... Vou te contar... Nada como ser uma lenda.
ONDE ESSE DINHEIRO ESTAVA ACOMODADO QUANDO O SENHOR O RECEBEU?Acho que numa mala média Samsonite. Quando chegou, mandei para minha tesouraria.
O CONTRATO PREVIA OITO PAGAMENTOS. COMO O SENHOR CONSEGUIU RECEBER À VISTA?Eu pedi ao Tronchetti (Marco Tronchetti Provera, presidente da Telecom Italia). Estava precisando e pedi a antecipação. Não ganhei esse dinheiro sem trabalhar. Fiz acordos para resolver a disputa entre o Opportunity (banco de Daniel Dantas) e a Telecom Italia. Por meio de um deles, a Telecom Italia pôde lançar celulares com tecnologia GSM.

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