sábado, 4 de junho de 2011

TAS (CQC) ACHA QUE ME PROCESSAR É ASSUNTO PESSOAL

Acabei de ser informada via Twitter de uma matéria no Comunique-se: 1o Caderno, com o título “Polêmica entre Marcelo Tas e blogueira: apresentador não nega processo contra professora”. A matéria de Anderson Scardoelli, que estranhamente não me contatou para ouvir omeu lado (embora utilize meus posts para resumir o que falei), faz um resumo do que aconteceu. É a primeira vez, que eu saiba, que Tas se pronuncia sobre o assunto. E sua posição é que isso não é notícia. Pra mim é. Afinal, eu que fui ameaçada com um processo!

Bom, considero uma contradição que ele se diga prejudicado, pois, ao mesmo tempo em que está “chateado”, também se vangloria de ter aumentado seu número de seguidores no Twitter. Ele fala disso na matéria, e num tweet de ontem:Mas o que fico pasma mesmo é como ele acha que falar de uma ameça de processo contra quem quer que seja não é notícia, é um assunto pessoal. Quando ele é vítima de ameaças contra sua liberdade de expressão, aí sim é notícia, né? Mas quando é alguém que ele quer calar, então é particular. Tas tem uma maneira peculiar de encarar a liberdade de expressão: para defendê-la em seu favor ele faz em público; para ameaçar, ele faz em privado.
Considero essa uma atitude hipócrita. Por que @s leitor@s e espectador@s de um dos arautos da liberdade de expressão não têm o direito de saber quando ele ameaça uma blogueira com um processo?                              
E sim, considero que ameaçar alguém com um processo, embora seja um direito legítimo, é uma tentativa de coerção e de intimidação. E das mais usadas. Não estamos falando de uma pessoa processando outra. Estamos falando de uma pessoa com toda uma máquina de advogados processando outra. Que não fez nada além de manifestar sua opinião sobre o programa (porque, como já disse, apenas o citei uma vez no post). As palavras de Tas no email me soaram como uma mostra de arrogância, um exemplo de “você sabe com quem está falando?”. Foram essas:
“Você vai aprender através de um processo por calúnia e difamação a ser mais responsável com o que publica, esta troca de e-mails documenta a minha tentativa de dialogo com voce antes de tomar o caminho da Justiça”.
Que fique claro: Tás não está sendo reprovado (se é que está) pela opinião pública pelas asneiras ditas no CQC 3.0, apesar do apresentador querer se desvencilhar do programa, quando lhe convém. Meu texto criticando a misoginia explícita que o CQC mostrou contra a anatomia feminina ficaria restrito ao meu círculo de leitor@s (que não é tão pequeno, com as 150 mil pageviews por mês do meu blog), mas que nem de longe se compara à audiência de um programa de TV. Certamente as mães ativistas que participarão dos próximos mamaços (veja aqui a agenda) se lembrariam do que os integrantes do CQC acham delas, que ousam amamentar em público. Não necessariamente por causa do meu blog, mas porque a maior parte das mães que viu o programa (veja aqui) sentiu-se muito ofendida. E esse argumento de “é só humor, é só uma piada” é tão leviano, não? Quer dizer que se eu dissesse tudo o que disse do CQC e incluísse no final um “Ha ha, não levem tão a sério, vão ver a vida lá fora, eu só estava brincando” eu não seria ameaçada de processo? Quem fala essas besteiras de "é só uma piada, é só um filme, é só um livro" nunca ouviu falar de toda uma área de pesquisa chamada Análise do Discurso.
O jeito como o CQC tratou da amamentação em público revoltou muita gente, eu inclusa, mas o que realmente mobilizou a rede, em sua maioria contra o Tas (eu acho, não tenho os números das pesquisas em mãos), não foi isso — até porque, para muitos que viram o vídeo, ele não entrou nas brincadeiras de Rafinha e Luque para ofender as mães e seus corpos. O que revoltou o pessoal foi ele ter me ameaçado de processo. Não é muito difícil de entender. E por que isso é polêmico? Porque a ameaça partiu do Tas, que geralmente é associado a movimentos pró-liberdade de expressão. Só que as pessoas não são bobas: elas enxergam a contradição aí, os dois pesos, duas medidas. Acho que até os espectadores do CQC são capazes de ver essa contradição.
Reitero que da minha parte, sou 100% a favor da liberdade de expressão. Nunca processei ninguém, nunca ameacei alguém de processo, nunca quis censurar ninguém. E meu blog está sempre aberto para ouvir “o outro lado”, através de guest posts ou de comentários. E, embora eu seja uma só mulher, sem programa de TV, com um emprego de professora que nada tem a ver com meu blog, sei que conto com o apoio de milhares de pessoas cansadas da arrogância das celebridades e do velho e autoritário “Você vai aprender através de um processo”. Esta luta não é só minha.

P.S.: Pra quem acha que estou tentando me promover com este caso, aviso que desde janeiro de 2008 escrevo diariamente neste blog. São 2195 posts, 1.7 milhão de visitas, 2.9 mi de pageviews, que renderam 53 mil comentários de leitor@s inteligentes, divertid@s, que sabem se expressar (ao contrário, e digo isso com pesar, do que parece ser o público-alvo do CQC). Um dos meus principais assuntos no blog é crítica da mídia. Realizo, aliás, um curso de extensão aberto à comunidade sobre este tema. O blog é o único espaço que tenho para me manifestar. E vou usá-lo para informar às leitor@s de cada passo do tal processo. Isso, sim, é acesso à informação. É liberdade de expressão. Porque eu não considero esse um assunto privado.

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