quarta-feira, 8 de junho de 2011

Para a Folha de SP "censurar é sempre a pior saída". Quem diria...

Cara Susana Singer,

Em sua coluna de domingo agora a senhora afirma que “para alguns leitores, é inconcebível publicar textos de alguém acusado de praticar ou acobertar um crime como a tortura. `A Folha mais uma vez dá voz aos que estiveram em evidência no período mais trágico da nossa história, em vez de deixá-los curtir a solidão e a vergonha dos derrotados moralmente e condenados pela opinião pública mundial´, escreveu o administrador Maurice Politi, 62, de São Paulo”. Pouco depois, você conclui: “Para a decepção de muitos, defendo a iniciativa, condizente com o pluralismo expresso no projeto editorial da Folha, de dar visibilidade à versão do ex-comandante do DOI-Codi, mesmo sabendo-se que funcionava ali uma central de tortura. Censurar é sempre a pior saída”. Opa, a fAlha ASSINA EMBAIXO desse final aí!
Ulstra: torturador-chefe com tratamento VIP na Folha
Susana Singer, a ombudsman, usou sua coluna para defender a "Liberdade de expressão" do torturador
.
Para quem não sabe do que estamos falando: Susana se refere ao artigo do coronel Brilhante Ulstra, comandante do aparato de tortura em SP nos anos 70, que a Folha publicou outro dia. O milico negou qualquer tipo de tortura e desmentiu prisões e transferências. Ultra paz-e-amor rebatia artigo do economista e ex-membro do movimento estudantil e Persio Arida, que havia sido publicado na Piauí (porque o maior jornal do país abre espaço para alguém rebater uma pequena revista eu não sei, mas vamos lá). Arida, depois da gritaria dos leitores, ganhou espaço na Folha para defender-se dos ataques do torturador. E Susana, em sua coluna de ontem (aqui para assinantes),  defendeu o espaço que o jornal deu ao torturador, evocando a tal liberdade de expressão.
protesto em frente a FSP
Folha: não foi Ditadura e sim Ditabranda.

.
Ah Susana, a liberdade de expressão… para quem está sendo processado pelo seu jornal com meu irmão, para quem teve o site cassado e está sob a ameaça de ter que pagar dinheiro aos seus patrões por conta de uma paródia, ouvir esse argumento é cômico. Mas vamos lá. Vamos supor que a Folha de fato defenda a liberdade de expressão. Então cara Susana, pergunto –a sério– e gostaria MUITO de uma resposta sua: em nome da mesma liberdade de expressão que a faz bater no peito orgulhosa para defender que um torturador diga em seu jornal na maior cara lavada que nunca torturou e ainda agrida um torturado (dessa vez com a conivência da Folha):
.
1) Por quê a Folha não abre espaço para um representante do governo Ahmadinejad explicar sua posição em relação ao Holocausto –que para ele, nunca existiu? Afinal, se o maior jornal do país publica texto do chefe da tortura dizendo que não tinha tortura, obrigando centenas (milhares?) de ex-torturados a ler essa afirmação grotesca no café da manhã, nada mais natural e a favor da “liberdade de expressão” que a Folha prega, que ouçamos os argumentos do governo iraniano para sustentar que o infame extermínio de judeus em campos de concentração, na verdade, nunca existiu. Afinal, como você mesma disse, liberdade de expressão vale mesmo quando não concordamos, não é mesmo Susana?
.
2) Por quê a Folha não abre espaço para um “pesquisador” que mostre que os negros são mais aptos parta funções físicas e menos aptos para atividades intelectuais, e então a escravidão estava cientificamente correta? Há muita gente na internet que defende isso. Não estou falando do horroroso crime do racismo, e sim, apenas, de liberdade de expressão, de debate de idéias.. afinal, é  disso que se trata, não Susana?
.
3) Por quê a Folha não abre espaço para um cientista que diga que as mulheres, supostamente mais aptas para tarefas domésticas e familiares, deveriam ser proibidas de trabalhar fora, ficando em casa para cuidar dos filhos? Também há muitos que acreditam nisso. Ninguém aqui defende ou acredita nessas afirmações. É apenas e puramente a liberdade de expressão medida pela régua da Folha.
.
Se não é assim, se você não concorda com o que estou dizendo, então por favor diga:  QUAIS SÃO OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO DA FOLHA???
Por experiência pessoal sei que 1) fazer piada ou criticar o jornal não pode; 2) atacar os gays e chamá-los de doentes e anti-naturais, se for “de forma pacífica” como a Folha já pregou em recente editorial,  pode e 3) defender torturadores e dizer que a tortura nunca existiu no Brasil também pode. E o resto, pode ou não, Susana??
Atenciosamente, respeitosamente e com liberdade de expressão,
Lino Bocchini

Nenhum comentário :

Postar um comentário